Faz agora uma semana. Uma semana que pareceu um mês, infinita, interminável..
Jantamos sem o pai porque tinha ido ver como estavas, jantamos tarde como é costume porque a Marta tem treino. Acabei e vim para o quarto. Estava neste preciso sitio a falar sobre ti, sobre o que se passava, sobre a injustiça que tudo isto era. Não sei bem que musica estava a ouvir, mas lembro-me de ela acabar e ouvir o choro desesperado da Mãe e da Marta. Eram 22:17h. «Foi o avô.» , foi a única coisa que me disseram. Não foi preciso mais nada. O coração apertou e continua apertado, muito. Estou em choque uma semana depois. Uma semana depois não acredito, porque o meu avô, não! Não por nós, não porque não é justo. Estavas ali, quieto calado, mas estavas ali. E isso importava, isso era valioso para nós. Tínhamos a tua presença, mesmo que silenciosa, eras tu vô. Se calhar estou a ser um pouco invejosa, se calhar só estou a pensar em nós, mas mesmo assim, tu não merecias. Ninguém merecia tal coisa, não assim, tão de repente. Inesperado até. E agora vô, uma semana depois, vi-te ali. O teu cheiro. Nossa, o coração aperta mais e mais. O quarto vazio, agora faz eco.  É tudo tão estranho, incomoda e eu não me quero habituar a isto, não me vou habituar a uma coisa que não gosto, não é ? Não foi assim que me ensinaste ? Não vou andar a engolir sapos sempre vô. Não gosto disto. Quero dar-te mais beijinhos, mais abraços. Quero ver outra vez alegria nos teus olhos, como quando viste a Marta a primeira vez. Lembro-me como se fosse hoje. O sorriso dos teus olhos. Sempre guardei essa bela imagem de ti. Quero jogar dominó contigo, era a única pessoa com quem tinha vontade de jogar. (..)
As palavras faltam, eu não sei descrever isto. Nem sei bem o que se passa cá dentro. É uma mistura de tanta coisa, e é tanta coisa nova, sem nome.. não sei vô, não sei mesmo. Duma coisa eu tenho plena certeza, o vovô vai sempre, SEMPRE olhar por mim. É o meu novo anjinho. E um grande obrigada, porque nunca tive oportunidade de o dizer, infelizmente.

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