“ e pergunto-me se os homens gostam verdadeiramente das
mulheres. Em geral querem uma empregada que lhes resolva o quotidiano e com
quem durmam, uma companhia porque têm pavor da solidão, alguém que os ampare
nas diarreias, nos colarinhos das camisas e nas gripes, tome conta dos filhos e
não os aborreça. Não se apaixonam: entusiasmam-se e nem chegam a conhecer com
quem estão. Ignoram o que ela sonha, instalam-se no sofá do dia a dia,
incapazes de introduzir o inesperado na rotina, só são ternos quando querem fazer
amor e acabado o amor arranjam um pretexto para se levantar (…) – As mulheres
têm fios desligados e um outro elucidou-me que eram como os telefones:
avariam-se sem que se entenda a razão, emudecem, não funcionam e o remédio é
bater com o aparelho na mesa para que comecem a trabalhar outra vez. (…) Não
tenho nada contra os homens a não ser no que se refere ás mulheres. E não me
excluo: fui cobarde, idiota, desonesto. Fui (espero que não muitas vezes)
rasca. Volta e meia surge-me na cabeça uma frase de Conrad em que ele comenta
que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que chega tarde
demais. Resta-me esperar que ainda não seja tarde para mim. A partir de certa
altura deixa de se jogar ás cartas connosco mesmos e de fazer batota com os
outros. (…) “, crónica de António Lobo Antunes.
6 comentários:
O problema está em algumas mulheres colocarem os homens todos "dentro do mesmo saco..."
P-E-R-F-E-I-T-O!
sim, eu também me divirto muito e isso, mas por agora não me consigo imaginar com mais ninguém, mas quem sabe não me vá surpreender.
adoro o texto, lindo, lindo!
Só poderias afirmar isso se conhecesses todos os homens. Mas se conhecesses todos os homens verias que afinal há algumas excepções.
Critica pois como ele admite, também era assim.
Mas não deixa de ser um bom texto.
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